Vencer as barreiras da deficiência

Agência Ecclesia
08/11/2010

Uma história onde o amor familiar e a vivência da fé quebraram as barreiras da deficiência e da incompreensão

da Redação

As gêmeas Mariana e Madalena têm apenas 10 anos mas o seu percurso de vida, marcado pelo autismo, é já uma autêntica lição numa sociedade que, muitas vezes, encara a deficiência como algo que deve ser escondido ou posto à margem.

 
Olhando para trás, Teresa Sá, a mãe, começa por recordar a “surpresa” que foi, para si a para o seu marido, Diogo, a notícia de que teriam gêmeas. Esta era uma gravidez tardia – o casal tinha já outros dois filhos – e que ficou marcada ainda por outro ponto decisivo: “Começamos a perceber que elas seriam diferentes”, revela.


Uma diferença que se revelava na indiferença que elas tinham a determinados ruídos, como o tocar do telefone, o sinal da campainha, ou na relação distante que tinham com os irmãos. “Havia qualquer coisa, que se percebeu quando as gêmeas fizeram dois anos”, recorda Teresa Sá, lembrando o momento em que a pediatra de família comunicou ao casal que Madalena e Mariana sofriam de autismo.


Motivados, porventura, pelo fato de ambos trabalharem na área da saúde – Diogo como médico, Teresa como enfermeira – à revolta inicial sucedeu uma “procura de alternativas, de curas científicas”. “Mas depois, houve não uma desistência, mas percebemos que aquela busca não trazia mais valias para aquelas crianças”, explica a enfermeira. Para o casal, o que passou a importar foi “que elas fossem felizes, naquilo que gostavam de fazer, “na natação, na ginástica, na escola, em casa”, e que conseguissem assegurar a sua autonomia.


Teresa Sá, que também é catequista, realça a importância da fé, no ultrapassar das dificuldades. “Aquilo que era importante para elas reterem era que Jesus é um amigo especial”, realça a mãe das gêmeas, recordando com emoção a caminhada que as levou até à primeira comunhão. Isabel Vale foi quem, em conjunto com Teresa, abraçou este desafio, que muitos considerariam inútil, dada a natureza da deficiência de que padeciam as duas crianças.


A assistente social e catequista, que durante 36 anos trabalhara num centro de diagnóstico, de observação e orientação, com país de crianças com deficiência, sabia que com crianças como estas “todos os desafios são ótimos” a partir do momento em que se consegue “olhar nos olhos e chegar ao coração”.


A música provou ser uma “aliada” importante neste desafio – as gêmeas gostavam muito de começar a catequese “benzendo-se e cantando em nome do pai, do filho e do Espírito Santo” conta Isabel Vale. As sessões “eram sempre na capela, porque estas não são crianças a quem se explique, são crianças com quem se vive e partilha a fé”.


Uma fé primeiro partilhada a quatro, mas que gradualmente foi integrando a comunidade, juntando as meninas a um grupo de crianças que estavam preparando-se para a primeira comunhão e fazendo-as também interagir com as outras pessoas que se dirigiam à capela. Novos ou velhos, mais ou menos ligados à paróquia, o que interessava era que eles falassem um pouco da sua relação com Jesus àquelas meninas. Isabel Vale conta que, a pouco e pouco, elas foram-se tornando “duas embaixatrizes da alegria e da ternura, pela paróquia fora”.


Finalmente, o dia da primeira comunhão – “comer o pão do Jesus”, como dizia Teresa Sá – chegou. A catequista recorda, com emoção, os momentos que antecederam a cerimónia, quando “a Mariana disse à mãe: ‘Hoje, pãozinho Jesus’”. “É a tradução mais bonita que eu conheço do Corpo de Jesus, foi a maior catequese que elas me deram”, diz, emocionada, Isabel Vale.
 

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